Em 1968, com a ofensiva do Tet, ficou claro para a generalidade dos americanos que a guerra do Vietname estava perdida. Mas a América só abandonou a luta, de forma desastrosa e trágica (com um helicóptero a cair do alto de um prédio ao levantar vôo, outro a cair ao mar ao aterrar no porta-aviões, etc) em 1973.
Será agora claro para a generalidade dos americanos que a guerra do Iraque está perdida. Resta perguntar quando abandonará a América a luta, e com quantos desastres e tragédias.
Como diz Fernando Ilharco no PÚBLICO de hoje, a prova acabada de que a guerra está perdida é a escalada vertiginosa do preço do petróleo. A América foi para o Iraque para controlar o único país que, atualmente, tem a potencialidade de aumentar de forma continuada e substancial a sua produção de petróleo, e que é simultâneamente o detentor das segundas maiores reservas mundiais. A América poderia assim controlar o nível de produção de petróleo, e os países a quem o petróleo produzido seria vendido. Não o conseguiu. A produção iraquiana permanece baixa e sem perspetivas de aumentar.
Como apontou recentemente um comentador israelita, a América aprende no Iraque a mesma lição que Israel apende em Gaza: que um exército moderno, por muito bem equipado e muito bem treinado que esteja, não é capaz de subjugar uma população civil determinada e unida, numa área densamente povoada.
Isto visto, resta dizer que o mundo perante o qual a América está, e perante o qual nós estamos, é cada vez mais difícil.
A América tem um deficit comercial gigantesco. Com o crescimento industrial da China, com a transição da economia chinesa do carvão (altamente poluente) para o petróleo, e com o fim do aumento da produção global de petróleo, este combustível essencial já não chega para todos, e o seu preço irá inevitavelmente subir. O deficit comercial americano agravar-se-á inexoravelmente. A dependência americana dos outros países, da boa-vontade dos investidores árabes e chineses que fazem retornar para a América os dólares que ganham no comércio com ela, tornar-se-á dramática.
A América compreendeu que a sua força militar, embora esmagadora, não lhe permite dominar o mundo. Terá talvez percebido que não se trata apenas de um problema de força bruta: é também um problema cultural, um problema de incompetência, de incompreensão, de impreparação da parte dos americanos. Os americanos fizeram no Iraque burrice atrás de burrice. [Do blogue do Noam Chomsky: The best explanation I've heard was given by a high-ranking official of one of the leading NGOs, who's had plenty of experience in some of the worst places in the world (can't identify him). I spoke to him on his (brief) return from several extremely frustrating months in Baghdad trying to get hospitals up and running. He said he had never seen such a combination of "arrogance, ignorance, and incompetence".] Os americanos, claramente, não têm recursos culturais que lhes permitam dominar o mundo.
O preço do petróleo sobe. E subirá ainda mais, ao longo dos próximos anos. A dependência tornar-se-á dramática. O mundo tornar-se-á muito difícil. E muito perigoso.
Luís Lavoura
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