A brasileira Giullianna Lukan, ativista na Palestina, diz o que é viver em um pais submetido a rituais de humilhação e violência
André Deak e Rita Freire, de Paris
Quando a brasileira Giullianna Iukan rumou para a Palestina, em 2002, não imaginava que seu trabalho como relações públicas do Instituto de Saúde, Desenvolvimento, Informação e Política de Ramallah (HDIP) começaria de forma tão dramática. A etapa final de sua viagem precisou ser interrompida. O escritório para o qual se dirigia acabava de ser ocupado pelas forças israeltas.
O sinal de recrudescimento da violência dos invasores, a pretexto de combate ao terrorismo, era claro. Até então, a HDIP, uma ONG humanitária dirigida pelo médico Mustafá Barghouthi tinha sido poupada, pelo menos fisicamente. Mas a queda das torres gémeas nos Estados Unidos abriu novos pretextos e fronteiras para a repressão israelita. O Exército invadiu também o ministério da Cultura e o da Educação Superior, destruindo documentos e instalações, tomando o controle dos prédios e interrompendo comunicações. Giullianna tinha uma primeira tarefa. De onde estava, protegida por amigos da causa palestina e informada dos acontecimentos, cumpriu a difícil missão de fazer chegar os informes de alarme para organizações e imprensa internacional.
A activista brasileira, hoje em Ramallah, trabalha também para uma rede de ONGS palestinas (PNGO) que reúne mais de 90 organizações civis e com o Palestine Monitor, um centro de divulgação unificado que registra cerca de 1,5 milhão de acessos de internet em busca de informações cotidianas sobre os efeitos da ocupação israelita. Sempre assessorando o médico Mustafá Barghouthi, dirigente da recém criada Mubadara ou Iniciativa Nacional Palestina, (movimento de movimentos e organizações nacionais contra a ocupação e pela reconstrução política da Palestina), Giullianna acompanha de perto o dia-a-dia de sofrimento que se prolonga desde a Segunda Intifada, iniciada em setembro de 2000, quando os palestinos se revoltaram contra o opressor.
Na convivência com a Mubadara, ela vê também o avesso desse sofrimento: os sinais de esperança que movem uma iniciativa política cuja principal bandeira é restituir aos palestinos o direito de decidir sobre seu futuro. Exigindo eleições em todos os níveis, seus participantes acreditam que a estagnação política está servindo tanto para aprofundar o brutal desequilíbrio de forças entre Palestina e Israel, quanto para perpetuar no poder um governo obrigado a curvar-se cada vez mais às pressões externas.
É sobre este quotidiano difícil de imaginar que ela fala na entrevista que se segue.
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