Um argumento que tem sido recorrentemente apresentado em defesa de propinas no ensino superior é o seguinte. O ensino superior dá acesso aos empregos mais bem remunerados numa sociedade. É justo que aqueles que dele usufruem paguem o ensino que lhes vai permitir no futuro ganhar muito dinheiro.
Este argumento parece atraente, mas deixa para trás duas questões.
1) Será justo o enorme diferencial de remunerações que atualmente se verifica entre diferentes profissões? Este diferencial de remunerações assenta num mérito efetivo, num verdadeiro serviço prestado à sociedade, ou antes na exploração de vantagens monopolistas e corporativas por parte de certos profissionais? Achamos aceitável que este diferencial continue a aumentar? Que uma consulta médica se pague a 100 euros? Que um gestor exija 1.000 contos por mês, mais carro e cartão de crédito?
2) O ensino superior é todo uma mercadoria? Todo ele dá acesso a profissões altamente remuneradas? Certamente que não: um estudante de belas-artes ou de antropologia não virá, provavelmente, a alcançar no futuro uma profissão altamente remunerada. Achamos então aceitável que todos os estudantes vejam o seu estudo apenas e principalmente
como um investimento no futuro, um passo que dão no sentido de no futuro virem a ganhar rios de massa? Achamos aceitável que todos os melhores alumos queiram entrar para medicina ou arquitetura, deixando para piores estudantes cursos que até exigem, nalguns casos, capacidades intelectuais bastante superiores? Será este um desenvolvimento harmonioso e desejável de uma sociedade?
Luís Lavoura
Sem comentários:
Enviar um comentário