segunda-feira, dezembro 22, 2003

A pobreza na Europa

O nosso carapau em vez de desatar a mandar postas de pescada devia era ler os calhamaços produzidos pela comissão; eles estão aqui, e são dois lindos relatórios feitos pela comissão Europeia, intitulados Relatório Conjunto sobre a Inclusão Social – Parte I: a União Europeia, incluindo a Síntese e Relatório Conjunto sobre a Inclusão Social – Parte II: Estados-Membros. Assim, podemos ver o porquê destes índices, não nos limitando à notícia do Publico.

1 - O Índice é questionável (são considerados pobres os que auferem menos de 60% do salário médio nacional), mas a verdade é que tem sentido fazer um índice relativo, já que o custo de vida nos diferentes países impossibilita fazer um índice absoluto: de certeza que o carapau sabe que alugar uma casa em Londres, pagar o metro ou comer (na mesma cidade) é muito mais caro que em Portugal.

2 - Mas a própria comissão reconhece que o índice é apenas isso, um índice, com as suas fraquezas, havendo uma grande discrepância entre Portugal (2 870 euros anuais) e o Luxemburgo (12 060 euros anuais); mas isso só piora a situação em Portugal, já que o valor de 21% dos Portugueses abaixo daquele limiar de pobreza (feitas as contas, a família viverá com menos de 239 euros por mês...) estará claramente subestimado. Já no Luxemburgo, os pobres devem ser praticamente inexistentes (neste ponto a razão vai inteirinha para o Carapau).

3 – Mas o relatório refere ainda que Uma em cada seis pessoas na UE (17%) enfrentou desvantagens múltiplas em dois ou até em todos dos seguintes domínios - situação financeira, provisão de necessidades básicas e habitação. A situação de pobreza destas pessoas é particularmente preocupante. Ou seja, o índice ajudou a descrever e quantificar uma situação que se sabe existir; ninguém andou a inventar pobres na Europa só para chatear os Liberais; o relatório insiste na existência da pobreza, tenta inventaria as suas possíveis causas e propõe soluções.

4 – O relatório refere ainda que para além da questão monetária (o famigerado índice), a pobreza em Portugal (por exemplo) tem ainda muitas outras dimensões:
No entanto, o rendimento monetário é apenas um dos aspectos da pobreza.
Para se ter uma ideia aproximada da dimensão desse fenómeno, há que ter um conta outros factores igualmente pertinentes como o acesso ao emprego, os cuidados de saúde e o grau de satisfação de necessidades básicas. Em matéria de protecção social, Portugal é o país da União que gasta menos em percentagem do PIB (23,4% em 1998, contra uma média comunitária de 27,5%). Neste contexto, há que prestar atenção especial ao número de pessoas em situação de pobreza persistente, à proporção elevada de trabalhadores pobres (em relação com os baixos rendimentos salariais e a precariedade dos empregos), à percentagem igualmente considerável de pensionistas em situação de pobreza (evidenciando uma das falhas do sistema de segurança social), ao baixo nível de qualificações da mão-de-obra e ao abandono escolar precoce, bem como à problemática da pobreza em meio rural e em certos bairros urbanos. Sendo a taxa de risco de pobreza das mulheres superior à dos homens (25% contra 22%), também elas devem ser objecto de destaque particular.


5 – O índice serve ainda para diagnosticar a importância das políticas sociais na Europa; se as pensões de velhice não tivessem sido contabilizadas como parte do rendimento, a percentagem de excluídos económicos saltaria para 41%.

6 – Eles bem tentam escondê-los [aos pobres], mas que los hay, hay.

PS - Eu gostava era de ver o Bagão a viver com menos de 240 euros por mês; e já agora, gostava de o ver no fim do mês sem guito nenhum porque se atrasaram a pagar o subsídio de desemprego, de preferência no mês de Natal.... Talvez então ele percebesse que o que para ele são questões menores, minudências, para os outros (os que se lixam) são questões enormes, colossais, mais importantes que o défice público ou o crescimento da economia ou mesmo o aumento das exportações....

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