Propinas or not propinas
A entrada das universidades em banca rota não é um exclusivo português, assim como não o é a solução: os estudantes que paguem a crise! Os argumentos pró são também os mesmos: é preciso competir com as universidades americanas, as quais possuem propinas elevadas que lhes permitem investir em equipamento de ponta. E os argumentos contra, idem: o aumento das propinas só vai servir para tapar os buracos do desinvestimento estatal, não para melhorar o que já existe.
E como está o mercado? Lideram os ingleses (1456 Eur/ano), que ante a perspectiva do aumento europeu generalizado se preparam para subir a parada até 4262 Eur/ano! A Holanda está em segundo lugar, com 1445 Eur/ano, mas com uma diferença substancial: enquanto os ingleses pedem empréstimos ao banco para pagarem as propinas, os holandeses recebem do Estado um empréstimo anual de 2640 Eur que não precisam repor se cumprirem uns requisitos de aproveitamento mínimos.
Alegam também os opositores ao ensino gratuito que é preciso combater o arrastar da frequência: na Freie Universität de Berlim foi identificado um aluno que aí se vem matriculando há 46 anos! (Se bem que neste caso devia haver atenuantes: é que o alemão Wilhelm von Humboldt, homem de Estado que em 1810 fundou uma universidade com o seu nome - mais uma das que agora se encontra em crise -, defendia que um estudante devia demorar tanto tempo quanto o preciso para se encontrar...) Em contrapartida há os que desistem a meio, que pelos vistos são especialmente numerosos em França e Itália: os apologistas das propinas esperam que quem já investiu do seu bolso tenha menor propensão a deitar essa parte fora... Para isso talvez seja meio caminho andado seleccionar os alunos mais interessantes e melhorar a qualidade dos professores – diz aqui que os alemães estão fartos de professores com emprego para a vida independentemente da qualidade do ensino que proporcionam...
Porém, que tenhamos parceiros europeus nas mesmas condições e no mesmo caminho não nos deve deixar indiferentes à escolha do rumo a tomar: é que há outros países europeus onde as coisas não são assim, prova de que é sempre possível outra via, de que as alternativas não estão nunca esgotadas. E aqui está a novidade que vem do frio: nos países nórdicos a educação continuará gratuita. Na Suécia, onde não existem propinas, nem a esquerda nem a direita (para usar uma linguagem que detesto) pensam em aproveitar a boleia euro para as introduzir. Aparentemente os suecos preferem pagar impostos elevados (e imagino que lá não se passe a candonguice de cá, onde só os agarrados pagam) a abrir mão de um princípio que lhes parece essencial: a educação é para todos. Sim, porque dizer que temos princípios mas que a conjuntura nos obriga a deixá-los de lado, sinceramente, é não ter princípios nenhuns, nem sequer o da coerência.
mpf
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