terça-feira, outubro 07, 2003

Irritação sanguínea

Hoje fui dar sangue no Hospital de Évora. O Serviço abre às 10h, mas como já sei que regra geral tenho que esperar pela chegada do médico que me pergunta se estou bem antes de me autorizar a dar o meu sangue, cheguei pelas 10h30. Perfeito: não há mais ninguém, e o médico está livre. Pedem-me o cartão de utente, querem saber onde nasci, quem sou, para onde vou. Digo-lhes que estou com pressa, e que já dei sangue naquele Serviço um ror de vezes. Dizem-me que é para fazer um cartão novo. Respondo que não quero mais nenhum cartão, e que recuperem a info que debitei das outras vezes. Não, isto já não digo, não vale a pena. Finalmente dão-me a credencial à qual só falta o carimbo do médico. Médico!... Ele entretanto resolveu ir tomar café! Viu-me ali, mas ainda assim deslocou-se calmamente até ao bar. E eu espero. Espero. Desespero. Pergunto quem é o chefe do Serviço, se posso apresentar queixa. Dizem-me que o chefe é ele mesmo, o dito que me deixou pendurada. Ninguém o vai chamar. Lamentável. E eu espero. Espero, desespero, as coisas que deixei por fazer para ir ali às horas que lhes dá jeito a eles. Em condições normais, a relação médico-doente é profundamente desequilibrada: o doente precisa, sujeita-se; o médico pode, manda. Mas num Serviço de Sangue as coisas são totalmente diferentes: acreditem que tenho bastante mais que fazer (não, não tenho nenhuma dispensa de serviço – as coisas que tenho que fazer acumulam-se à minha espera), e que posso muito bem viver sem dar sangue! Dou sangue porque tenho a sorte de ser saudável, não é sacrifício nenhum (excepto a perda de tempo útil) e porque penso que se deve ser solidário com quem precisa – e estamos a falar de vida ou de morte. E porque regularmente recebo uma carta do Serviço de Sangue informando que têm falta do precioso líquido. Um Serviço onde todos são uma simpatia, o que é positivo e infelizmente raro. Mas não há pachorra, estou mesmo saturada: nunca fui dar sangue que não tivesse que esperar pelo médico que chega atrasado ou está no bar nas horas de serviço! Lamentável produtividade, lamentável falta de consideração pelos outros. Assim não dá. Não dou.
mpf

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