«A banca, à imagem de numerosos serviços britânicos, transfere actividades para a Ásia
Por Christophe Boltanski
Libération, 21 de Outubro de 2003
É a maior deslocalização alguma vez realizada no sector dos serviços. A HSBC, o segundo maior banco do mundo, prevê suprimir 4.000 postos de trabalho administrativos na Grã-Bretanha e transferi-los para a Ásia. A partir de 2005, os seus serviços de informação telefónicos e as suas operações de tele-processamento, actualmente realizados em Birmingham, Sheffield e Brentwood, em Inglaterra, e Swansea no País de Gales, serão assegurados por indianos, malaios e chineses.
O grupo, que está presente em 79 países, realiza já hoje certas tarefas administrativas nesta parte do globo. Não passa por dificuldades financeiras particulares e declarou em Maio um lucro anual de 6,88 biliões de £ (9,66 biliões de €). Mas os seus dirigentes estimam que esta medida sem precedentes é necessária para continuar “competitivo e eficaz”.
Direito ao trabalho
“Quando se está à frente de uma empresa como a nossa, deve-se reflectir em termos globais e ter uma abordagem responsável e humana”, explicou o seu director geral, Stephen Green, numa entrevista publicada no sábado pelo The Gardien. “Não esqueça que as pessoas na Índia (e noutros sítios) também têm direito ao emprego.” O seu predecessor, Keith Whitson, tinha já provocado ondas há mais de um ano ao declarar que o pessoal dos centros de atendimento na Ásia mostrava mais entusiasmo e eficácia que os seus colegas ingleses embora “custassem cinco vezes menos à empresa.”
A HSBC não faz mais que seguir um movimento iniciado por numerosas firmas britânicas. As companhias de seguros Aviva ou Prudential, os bancos Abbey National, Lloyds, TSB, a cadeia de supermercados Tesco, a empresa de telecomunicações BT, a British Airways, e muitas outras, deslocaram já uma parte das suas actividades para a Ásia. A tendência promete acelerar. A semana passada, os serviços de informações ferroviárias anunciaram por sua vez a sua transferência para a Índia, para Bangalore.
Os serviços de apoio a clientes, que representam hoje no Reino Unido 300.000 postos de trabalho, são os primeiros a serem atingidos. Mas este movimento pode igualmente tocar actividades tão diversas como a criação de aplicações informáticas, a gestão financeira, o design industrial ou o processamento de salários.
Formação
“Quando metade do mundo fala inglês, essa metade do mundo pode também tratar dos pedidos provenientes de Inglaterra”, verificava domingo um editorialista do The Observer. Os empregados dos centros de atendimento de Nova Deli, Calcutá ou Hyderabad são na sua maioria jovens diplomados recebendo mensalmente entre 180 e 280 €. Recebem uma formação especial para ‘neutralizar’ a pronúncia e, por vezes, são mesmo informados diariamente do estado do tempo na Grã-Bretanha ou dos últimos resultados futebolísticos do Arsenal ou do Manchester United para poderem conversar mais facilmente com a clientela. Um operador de Bangalore contou mesmo a um jornal britânico que corrigia a pronúncia “ouvindo Rex Harrison no [filme] My Fair Lady”.
A HSBC, que tinha já anunciado a supressão de 1.400 postos de trabalho em Junho, espera reduzir os seus efectivos graças essencialmente às saídas voluntárias, mas não exclui a possibilidade de despedimentos. A Finance Union (Unifi), o principal sindicato no sector bancário, ameaça o grupo com um pré-aviso de greve. O seu responsável máximo, Rob O’Neil, promete bater-se “com unhas e dentes para obrigar a HSBC a rever a sua decisão”.
A deslocalização no conjunto dos serviços
Segundo um estudo efectuado o ano passado pela empresa de recrutamento de pessoal Adecco, as companhias britânicas deverão criar 100.000 empregos na Índia em serviços de apoio a clientes até 2008.»
Nota: traduzido por APP
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