Resposta a Pedro Mexia
RESPOSTA NO INDEPENDENTE
O jornal Independente publicou a 29 de Agosto uma resposta da Opus Gay a um artigo de Pedro Mexia: "OPUS GAY, ATAQUES, CLIQUES, CONOTAÇÕES"
Caro Senhor Pedro Mexia,
O seu texto do passado dia 28 de Julho, "Opus Gay : cliques e claques" motivou-me esta resposta para clarificar certos pontos, tal como lhe referi em email pessoal, sem resposta.
1- Continuo a considerar que a questão de colocar em tribunal uma entidade que nos ofende, ou, pela qual nos sentimos ofendidos é perfeitamente legítima, num Estado de Direito. Contudo, não o pretendemos fazer de animo leve, e temos tentado todas as portas legais, que nos têm sido fechadas. A sua não resposta ao e-mail que lhe enviei, é disso um exemplo cabal. De facto, a estratégia utilizada para nos continuar a ghetizar, desclassificar, é simples: afirma-se que não temos legitimidade em nome das Associações para nos defendermos dos insultos, inverdades, mentiras, confusões, ou erros científicos que são largamente difundidos por órgãos de informação, não nos sendo reconhecido o direito de resposta, nem em nome próprio porque não somos nomeados. Simultaneamente, afirma-se que não devemos ultrapassar senão uma certa área de questões, e que as outras estão fora da nossa alçada. Ou seja, os gays só podem ter opinião sobre questões muito limitadas, do umbigo para baixo, e mesmo aí, nem sempre tem legitimidade para tratar delas. Os heteros podem tratar de tudo!
2- Actualmente, em Portugal e no Mundo o movimento social lgbt, lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, vulgo gay, entendendo como movimento social "um processo através do qual vários actores constroem através da acção e da comunicação uma autodefinição, a facção que está do mesmo lado do conflito, " (Diani 1992), vem adquirindo maior visibilidade, e tornou-se à semelhança de outros movimentos, um movimento global, de luta pelos Direitos Humanos, e das minorias sexuais. Depois de ter visto os seus mais legítimos direitos esmagados, ao longo destes últimos séculos, através das Leis, Moral, Medicina, Família, Igreja, e do Estado - começa agora a ter maior aceitação junto das opiniões públicas urbanas, o que tem mexido com o "status quo", de muitos interesses instalados. Por isso, surge uma reacção global, incarnada neste momento, por dois líderes globais, ambos unidos para impor o pensamento único, juntos, para proibir qualquer diversidade. O texto que escreveu, tal como os do cronista que refere, entre outros, não são senão, lamento dize-lo, mais umas achegas preconceituosas, neste sentido, escritas à dimensão arrogante, do nosso periférico país.
3- Recordo-lhe que estamos a falar da maior minoria que existe em Portugal, mesmo considerando a população emigrante estimada em meio milhão de pessoas, e de igual modo ghetizada, mas por processos diferentes, com consequências identicamente nefastas. Estamos a falar portanto, de questões de Cidadania, e de qualidade da Democracia, num Estado de Direito.
Gostaria de recordar que os gays, são bons profissionais, em todos os escalões da vida social, pagam os impostos, dedicam-se totalmente ao trabalho, impossibilitados como estão de constituir família, contribuindo assim, de uma forma indiscutível para a economia deste país. Só por isso, haverá toda a razão para que tenham os mesmos direitos que os heteros, em termos de regalias sociais. Isto explica porque é que a Opus Gay (OG) se empenhou tanto na luta pelas Uniões de Facto, e, agora, pela inclusão no Código de Trabalho das Directivas Comunitárias relativas à não discriminação por razões de orientação sexual no local de trabalho, no que tivemos só o apoio da CGTP -Intersindical.
4- É importante dizer que esta minoria é maioritariamente de tradição católica, e tendencialmente, pouco dada a radicalismos. Por isso é aos eleitores, e os partidos políticos do arco sociológico, PSD, PS até PCP, 75% da opinião publica, a quem devemos dirigir o nosso discurso, sendo que os políticos destas áreas terão que abrir mais as suas mentalidades, se não quiserem ver estes 10% do eleitorado fugir-lhes. Temos notado uma mudança (envergonhada) de alguns dirigentes partidários em relação a estas questões, mas continua a imperar, o paternalismo político, a hipocrisia, para além de uma grande ignorância das agendas, sobretudo europeias e comunitárias, entre muito preconceito, para não dizer homofobia, com excepção, gratificante, para o Bloco de Esquerda .
5- De salientar também que os gays não são contra a Família, pelo contrário, querem reforçar a instituição familiar, no sentido de quererem alargar o conceito da mesma, sem questionar os que se agarram a qualquer outra fórmula consuetudinária. Também não pretendemos intervir nos planos religiosos-eclesiásticos que respeitamos, mas pretendemos num Estado de Direito laico ver os nossos direitos civis, reconhecidos, em pé de igualdade com os dos heteros. Acusados sistematicamente de promiscuidade, os gays e lésbicas, agora, que pretendem constituir relações sólidas e estáveis no plano social - civil, vêm o caminho barrado, sob os mais variados pretextos, e até religiosos.
6- Foi quando o Dr. João Soares cedeu, e bem, um espaço comunitário aos gays de Lisboa, e a OG surgiu que se começou a assistir à tentativa de uma CLIQUE, de formar um "condomínio partidário - comercial ", para controlar de todas as maneiras a comunidade glbt, em seu proveito, criando uma liderança aparente, com uma ONG, primeiro da área da sida, 1997/98(fracassou), depois, da área glbt, com nome credível, para que instrumentalização fosse eficaz, e que ficava com os benefícios económicos. Entretanto, o cerne verdadeiro, o controlo político, ficava sempre no partido, que apadrinha a táctica, com fins eleitorais, e que nomeou para isso os seus responsáveis. O primeiro objectivo político foi bloquear logo, todos os previsíveis apoios políticos glbt ao ex-Presidente da CML, face à simpatia despertada no nosso meio pela sua acção, enquanto simultaneamente se iam obtendo dele, (e de todos) o máximo de facilidades para esses (sub) grupos recém criados. Seguidamente, todos juntos, deste modo podiam boicotar/silenciar/excluir quaisquer outras alternativas, e ao mesmo tempo fazer CLAQUE pelas favoráveis, que lhes dêm “rendimentos”. Deste modo, se conciliam duas ordens de interesses: o político- partidário com o das exigências associativas. Ao mesmo tempo, garantindo-se a hegemonia, passava-se para fora uma imagem de "unidade" glbt.
7- Estas tácticas, com outros golpes, talvez tenham trazido alguns votos aos seus mentores, integrados como sócios activistas dessas associações, que vigiam, sobretudo em períodos eleitorais ou críticos, (e agora aproxima-se um), mas, estou certo, trouxeram muito mais prejuízo e descrédito à nossa luta pelos nossos Direitos Humanos, que ficou partidarizada.
A tentativa que prossegue, não tem tido êxito total, em parte, graças à oposição firme da OG, e ao programa de rádio, gay, independente, " Vidas Alternativas", na Voxx, ambos pagando por isso. Entretanto, tem êxito quando, tal como o senhor apressadamente fez, nos conota a todos partidariamente. É uma generalização abusiva, e um erro. Tanto mais que na OG sempre tivemos associados de todos os quadrantes políticos, da direita à esquerda.
Depois, torna-se fácil ghetizar-nos dizendo que somos todos de extrema -esquerda, que é o que mais convém a todos os adversários. Por isso, a OG tem defendido sempre a independência, e não se tem cansado de o dizer a todos.
8- Concordo consigo, e só neste sentido, quando diz que isto é fruto da "pobreza" do nosso meio, que se reflecte nos frágeis movimentos associativos (todos). Neste caso, é também fruto do receio que incapacita os homos, cuja auto-estima é baixa, de assumirem francamente, fora e dentro das associações, a luta pelos seus Direitos, para imporem uma agenda negociada mínima aos partidos. É fruto dos radicalismos, que gritam regularmente “Abaixo o Capital!”, impedindo o casamento dos interesses comerciais genuínos, com as demandas associativas, que é o que nos pode fazer avançar publicamente, como tem acontecido noutros países ocidentais. É fruto desta pecha de que sofremos todos, de só olharmos para o nosso umbigo, e só pensarmos na nossa quinta, e de que "quem não é por mim, é contra mim!"
Temos de saber alargar a nossa base social de simpatia, criar redes de solidariedade com outros movimentos, respeitar as diversidades, ser mais dialogantes e menos fundamentalistas, rever estratégias para esta nova conjuntura, e ser, sobretudo, cada vez mais independentes dos partidos, com quem devemos dialogar. É o que sugiro a todos.
Terei sido claro?
AS
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