quinta-feira, agosto 14, 2003

Globalização e Liberalismo

A única forma de se poder fazer uma crítica pertinente é conhecer em profundidade o que se quer criticar. Quem melhor que Joseph E. Stiglitz para criticar a actuação de instituições financeiras no processo da Globalização? Neste artigo, apenas transcrevo alguns excertos do livro de J. Stiglitz, prémio Nobel da Economia em 2001, "Globalização, A Grande Desilusão".

"Na véspera da minha entrada no Banco Mundial,...o que podíamos nós fazer por 1,2 mil milhões de pessoas que viviam com menos de 1 dólar por dia, ou por 2,8 mil milhões que viviam com menos de dois dólares, o correspondente a mais de 45 por cento da população mundial?"

"A cumular todo o processo da globalização vem o menosprezo dos valores, o menosprezo da moral e da ética."

"Na essência de todo este processo subjaz de facto o menosprezo dos valores: é o crescimento a assumir-se como Desenvolvimento escamoteando ou adiando a distribuição, isto é, a justiça social; é a insensibilidade ao agravamento dos desequilíbrios; é a possível insustentabilidade do crescimento com o dispêndio de recursos não renováveis, (...) a comprometer oportunidades de gerações futuras; é o desemprego a valer apenas como estatística, esquecendo que são pessoas, famílias, que o sofrem,..".

"E vêm a reboque as hipocrisias; a reboque e a coberto do menosprezo dos valores."

"Há muitos anos, o ex-presidente da General Motors e secretário da Defesa, Charles E. Wilson, fez uma declaração que ficou célebre e que se tornou o símbolo de uma determinada concepção do capitalismo americano: «O que é bom para a General Motors é bom para o país». Muitas vezes, o FMI parece adoptar uma ideia semelhante:«o que a comunidade financeira considera que é bom para a economia mundial é bom para a economia mundial e deve ser feito.”

"É por isso que, como vimos, muitas vezes o FMI forjou políticas que, além de agravarem os problemas que tentavam resolver, permitiram que eles se multiplicassem."

"a liberalização tem conduzido a aumento do desemprego; e a hipocrisia dos que «empurram» para a liberalização do comércio aí está:«Os países ocidentais exigiram a liberalização do comércio para os produtos que exportavam, mas ao mesmo tempo, continuavam a proteger aqueles sectores em que a concorrência dos países em desenvolvimento podia ameaçar as suas economias»."

"não temos nós assistido, como pretensa resposta ao terrorismo condenável, (...) não temos assistido ao desencadear de ataques bélicos que devastam e deixam na miséria populações extensas, indefesas e inocentes, fazendo-se-lhe seguir depois da devastação ajuda humanitária?"

"A entrada e a saída de capitais especulativos que tantas vezes se seguem à liberalização do mercado de capitais deixam o caos atrás de si."

"Aumenta o fosso entre ricos e pobres, e até o número de pessoas que vivem na pobreza absoluta - com menos de um dólar por dia - aumentou."

Introdução e tradução por Zé Manel. Texto original e discussão pode ser consultada aqui

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