Correm quentes os dias...
A suar, do âmago deste calor mole de Lisboa, sente-se, nas notícias destes dias de fogo, a miséria de quem já não volta deste verão. De quem aqui ficou para sempre, devorado pela perda do que mal possuía, com a alma comida pelo fogo.
A feder deste resto de cidade abandonada (que se ama porque sim), prova-se ao jantar, durante a hora do telejornal, o desespero quieto e mudo dos olhos dos velhos, que cresceram com as matas da aldeia, e que com elas ardem para sempre neste verão.
Se um outro mundo for possível, então sairá da carne viva de dias assim (ou perder-se-á para sempre na insustentável leveza das palavras): ou começa agora a solidariedade com as vítimas, ou acabaremos todos, nem que seja pela inacção ou pelo silêncio, a gastar milhões na compra de submarinos de guerra.
Globalização alternativa se existe tem que se mostrar, para lá das querelas estéreis, durante a miséria destes dias que por causa dela... correm quentes.
FMR
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