terça-feira, julho 08, 2003

Nota botânica V

A Figueira



Ficus carica - Figueira - Toda a gente sabe o que é, por isso não é preciso expicar. No entanto, esta espécie que pertence à família das Moraceas (a tal da Amoreira, árvore altamente conceituada na moda dos bichos da seda, onde as suas folhas eram vendidas em saquinhos por comerciantes sem escrúpulos), tem uma particularidade muito curiosa. Já se questionaram onde é que estão as flores do bicho? pois é, as flores estão na parte de dentro do figo, sendo o buraquinho existente na base do figo a entrada para este micro-mundo à parte. Para tão minúsculas flores, apenas um minúsculo polinizador serve ao figo. Quem cumpre estes requisitos? Uma minúscula vespa, que entra pelo buraquinho neste jardim das delícias. Neste caso particular, a fêmea fica num único figo enquanto que o macho anda de figo em figo, à procura de fêmeas receptivas; é verdade que é uma atitude muito machista, mas serve os desígnios do figo, já que apenas os machos polinizam efectivamente as suas flores. A fêmea, que faz do figo a sua casa, põe os ovos nas flores do figo, que alimentarão a próxima geração de vespas. Claro que existe um compromisso com o figo, e apenas algumas flores servirão de alimento às vespas esfomeadas; em contrapartida, a vespa atraiu machos suficientes para polinizar todo este micro-cosmos. Da próxima vez que comerem um figo, lembrem-se que se calhar estão a ingerir famílias inteiras de vespas minúsculas, destruindo para sempre nos vosso ácidos estomacais o outrora Jardim do Éden para tantas e tantas vespinhas.

Utilização subversiva – o leite da figueira pode causar alergia. Plantar resmas de figueiras em volta das casas dos valentes ministros. Da próxima vez que o Durão fôr à chinchada aos figos, talvez apanhe uma daquelas alergias que o deixe afónico e a coçar-se por umas valentes semanas. Ou então, numa versão mais radical a roçar o terrorismo botânico, manipular geneticamente umas micro-vespas para se tornarem altamente venenosas e começar a oferecer figos infectados bem gelados (pingo-mel de preferência) aos nosso piores inimigos. E zás, quando eles forem a comer um delicioso figo pingo-mel bem geladinho, as vespas atacam sem dó nem piedade os pilares da democracia representativa (por exemplo). Ou ainda, fazemos uns micro-microfones para escutas altamente sofisticados, treinamos as vespinhas para os instalar mesmo ao pé das cordas vocais, e só descansamos quando virmos todos os deputados mauzões atrás das grades.

PP

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