A reforma da PAC: outra PAC é possível
Indo contra tudo e contra todos, arrisco-me a mandar umas bocas. Se aqui há uma carrada de anos tinha sentido a Europa incentivar a sua agricultura, já que estava longe de ser auto-suficiente, hoje em dia esse quadro mudou drasticamente: temos excedente de quase tudo, somos obrigados a derramar leite e a queimar colheitas, tudo em nome de um mercado cego e ávido; no entanto, a Europa continua a subsidiar a agricultura, com as mesmas regras do início da sua política agrícola. Nestas regras, o importante é o número de cabeças de gado e os hectares e outras coisa quantitativas do género. Para além deste proteccionismo ter consequências gravíssimas em países terceiros (do terceiro mundo, por exemplo), ele benificia a quem e o quê?
Pelos vistos, apenas metade dos agricultores Europeus acede ao bolo financeiro da PAC. Desta metade, 4% ficam com mais de metade do bolo (imagino que em Portugal ainda fiquem com mais bolo, pelo menos no Alentejo). Enquanto isso, práticas agrícolas sustentáveis, que nos dias que correm terão cada vez mais competitividade, não são incentivadas; correcção: já são incentivadas, pelo menos no papel; mas o nosso ministro está interessado é em quotas de leite; o mais certo é que para ir lá buscar esse guito Portugal se ponha a florestar a torto e a direito, desde Castro Verde à Serra da Arrábida. A ver vamos. A criação de gado em sistemas extensivos (e não intensivos), a manutenção da biodiversidade (ou mesmo o seu incremento), a não erosão dos solos, a utilização de raças autóctones, mais adaptadas as nossas condições ecológicas, a não utilização de pesticidas e de adubos, são atributos essenciais de uma agricultura sustentável e esses atributos, não são (ou são muito pouco) incentivados. A actual PAC ainda está no critério da quantidade , quando os consumidores europeus já há muito que se preocupam com a qualidade do que comem e com a conservação dos ecossitemas. O que mais me dói, é que temos todas as condições para chegar a essa qualidade, e ter um desenvolvimento sustentável harmonioso (como é já disso prova a biodiversidade do Montado, sistema agro-silvo-pastoril onde homem e natureza contribuem em partes iguais para dar forma a este ecossistema), e continuamos a subsidiar quotas cegas, que acabam muitas delas a ajudar na proliferação incontrolada de jipões por esse Portugal fora.....
PP
PS - Na prática ficou tudo na mesma, com os poderosos a receberem subsídios principescos e com os pequenos agricultores, condenados ao desaparecimento. Por curiosidade, a rainha de Inglaterra, essa grande agricultora, é uma das principais beneficiárias da PAC
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