O trágico destino do dedo de Galileo
Como me encontro atafulhado de trabalho até ao pescoço, e como os meus últimos posts têm sido bastante sisudos, aqui fica uma referência a um livro, pelo qual tenho trocado grande parte do meu sono ultimamente, e que me parece injusto não partilhar com quem, como eu, é apaixonado por divulgação científica:
"Galileos´s finger, the ten great ideas of science" de Peter Atkins editado em língua inglesa pela Oxford University Press.
Como o próprio nome indica, o livro é sobre o que o autor considera serem as dez grandes ideias em ciência. A escolha, que o próprio autor assume como sendo naturalmente discutível, é a seguinte: Evolução, DNA, Energia, Entropia, Átomos, Simetria, Quanta, Cosmologia, Espaço-tempo e Aritmética.
O melhor que posso dizer do livro é que proporciona um prazer semelhante ao de, estando um indivíduo cheio de sede, resolver saciá-la bebendo voluntariamente água gelada através de uma palhinha (eu tenho um velho amigo que costumava de facto fazer isto, a seguir de passar noites inteiras pôr pendões partidários pelas ruas de Lisboa!).
A par de proporcionar prazer o livro incomoda-nos, talvez por impor cruelmente a exposição da contradição entre as nossas pequenas e grandes misérias, e a beleza de tudo. Enfim perdoem lá a lamechisse, mas um ateu também tem direito a uns arrebatamentozitos místicos de vez em quando, para além do já costumeiro “um outro mundo é possível!”
Se preferirem uma imagem menos emocional, leiam a contra capa onde Richard Dawkins sugere que, apesar de tal nunca ter acontecido, o prémio nobel da literatura poderia ser atribuído a um cientista, justamente a Atkins por este dedito de génio.
Já agora um pormenor mórbido: o título tem algo de literal. É que logo nas primeiras páginas aparece uma foto do verdadeiro dedo de Galileo! De facto, como aí se explica, em 12 de Março de 1737, alguém resolveu que guardar um dedito do rapaz num museu era capaz de ter piada... agora imaginem o aspecto do dito apêndice com mais de 300 anitos (Galileo morreu em 1642)! Bom os mais impressionáveis passam essa página e seguem em frente. Vale mesmo a pena!
Última nota: quando lhe cortaram o dedo o corpo de Galileo foi transferido para a igreja de Santa Croce (Santa Cruz) em Florença. Na lindíssima praça com o mesmo nome há uma simpática e recatada enoteca, onde ao fim da tarde se bebe chianti a copo, e onde a inundação de beleza torna mais simples acreditar que um outro mundo é mesmo possível...
FMR
PS - Para futuras núpcias fica um comentário a um dos melhores livros de divulgação na área de cosmologia que já li - "Faster than the speed of light" de João Magueijo (depois de lerem este podem esquecer os Stephen Hawkings e companhia!).
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